sábado, 22 de maio de 2010

Sobre coisas que fazem o dia valer a pena

Estive em um dia péssimo e saí em busca de uma experiência bacana. Chateada depois de uma prova péssima de inglês, minha cabeça se dividia em pensamentos bilíngues. Andei pelas ruas do Centro, vi todos aqueles casarões antigos, as pessoas apressadas, outras, estáticas, observando o movimento e eu ali, no meio de tudo looking for something unusual que fizesse meu dia valer a pena.

Almocei em um restaurante simples, uma comida caseira excelente e tomei um mate gelado - amazing - enquanto observava vários senhores falando do Dunga e do Lula no Café São Luís. Outra volta, calor do meio-dia e um refúgio: UM SEBO. Ah! Paraíso... O vendedor ainda me reconheceu. Eu ia lá quase todos os meses depois de juntar o troco do lanche do intervalo na escola.

- Pensei que você não viria mais em busca de edições antigas.

- É que tô sem tempo...

- A mais nova das minhas freguesas! Mas sabe, poucos buscam aquelas edições de capa dura que você gostava. E agora já vejo que você não me pagará com um dinheirinho trocado... Não é?

- Ainda gosto! É que não tive tempo de voltar...

- Agora só se fala num tal de Crepúsculo e uns livros sobre algo que foi perdido. Triste. Todos americanizados. Aqueles livros que o povo lia antigamente estão ali, numa estante meio escondida. Ninguém vai até lá...

- Exatamente o que eu procuro! Alguma novidade por aqui?

- Estamos vendendo esses títulos num site aí... Alguma coisa que minha cunhada viu num computador e tá dando é certo! O povo não tem tempo de vir no sebo, faz tudo de casa.

- Que graça tem? Garimpar livros bons num sebo on-line... Não tem esse cheiro de história, de outras impressões vividas por quem leu esses livros.

- São pessoas como você, pequena! Sempre sem tempo!

- Mas eu voltei, não voltei? Demorei, mas vir aqui hoje é bem mais que garimpar um livro bom...

- Eu sei como é... É voltar a se sentir um pouco mais gente, quando você se comporta como uma máquina, não é?

- ...

- Leva esse: Contos de aprendiz. Vai te fazer sentir mais humana, pequena. E quando acabar esse, volte, que eu vou te deixar garimpar outro livro, mas sozinha... Aí pela sua escolha eu digo se funcionou ou não. Combinado?

- Temos um acordo!

Tá vendo? Sua falta de tempo chama-se trabalho. É muito fácil comprar um livro, agora que você tem seu dinheiro. Em compensação, te falta o tempo!

Me deliciei folheando livros que tinham nomes manuscritos, iniciais, dedicatórias, juras de amor e conselhos de pais e tias... Me detive pensando no que teria acontecido com as pessoas que receberam os livros e se desfizeram deles. Pensei em mim, nos meus livros sem dedicatória e sorri.

Eu ri das lembranças daquele vendedor de livros... Como pode lembrar de mim depois de vários meses? Sempre achei que ele ria das moedas e notas de R$ 1,00 que eu dava como pagamento!

It doesn't matter... Saí com meu coração leve e a cabeça cheia de humanidade, abraçada com meu mais novo companheiro e com a sensação de ter garimpado no sebo os minutos que fizeram o meu dia valer - e muito - a pena.

4 comentários:

  1. Depois de uma prova de inglês, o melhor mesmo é visitar um sebo ;-)

    Adorei as reflexões, Alice! Que belo momento você teve... É sempre bom fazermos com que o dia seja assim! Bjs...

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  2. São esses "os pequenos grandes momentos" que fazem a vida valer a pena. É o simples. É o cada vez mais imperceptível para as pessoas que deixa a vida mais prazerosa.

    Adorei o texto e suas reflexões Alice.

    PS: Sebos são lugares mágicos!

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  3. Pura sensibilidade em forma de poética vaguidão...

    O sebo sempre traz algo de mágico, um quê eternizado pelas páginas amarelecidas, que contam mais do que simples histórias.

    Sempre tocante!

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  4. Obg, meninos... Que bom compartilhar com vcs!

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E tudo o que você pensa é...